terça-feira, 30 de dezembro de 2008

2008 - O ano do Cisne Negro

O ano em que o improvável aconteceu.
A crise nos mercados monetário e de capitais de 2007
transformou-se em crise bancária e de crédito em 2008
e antecipa a crise económica em 2009.
Reino Unido e Estados Unidos, os países mais liberais do mundo ocidental, fizeram a estreia na nacionalização bancos, ajudaram directamente empresas.
Os grandes gurus da finança estavam afinal a "nadar sem calções" como diz Warren Buffet
O pragmatismo assumiu o controlo da acção contra a violenta tempestade que caiu sobre o mundo.
E a visão do mundo económico mudou.


As escolhas do Visto da Economia do ano de 2008

NO MUNDO

A figura John Maynard Keynes


John Maynard Keynes visto por Duncan Grant em 1917

Keynes renasceu. Keynes foi em 2008 recortado e citado como nunca o tinha sido desde o início dos anos 70.
As suas receitas em que o Estado tem um papel fundamental soam como as mais ajustadas para recolocar em funcionamento a economia. A "mão invisível" de Adam Smith apenas parece funcionar nas ondas de prosperidade.
Nada disto significa a morte do capitalismo. Revela apenas - ou recorda - que o mercado tem falhas graves, que a "mão invisível" pode conduzir o mercado para estados de desequilíbrio e que, mais importante ainda, um enorme fosso entre a globalização dos mercados e a total ausência de globalização social, política e institucional que condicionam a actuação eficaz da "mão invisível"

O acontecimento A crise bancária

Bancos nacionalizados, bancos que desapareceram, bancos que faliram, o fim da banca de investimento, magos da finança transformados em demónios, o cidadão comum com medo de ver as suas parcas poupanças desaparecerem... de tudo um pouco se viu neste ano do improvável.


Em Portugal

A figura António Mexia

O presidente da EDP e afinal também da EDP Renováveis protagonizou mais um "Cisne Negro": No meio do caos financeiro conseguiu colocar em bolsa a EDP Renováveis com uma Oferta Inicial que foi um sucesso realizada nos poucos momentos de calma e algum entusiasmo - 19 a 30 de Maio - nos mercados bolsistas.

As acções foram vendidas a 8 euros e no primeiro dia em bolsa caíram para 7,65 euros. Nunca durante o ano voltaram a atingir os 8 euros. Nestes últimos dias do ano transaccionaram-se em torno dos 5 euros.

O acontecimento A nacionalização do BPN

Em Portugal dia 2 de Novembro aconteceu a primeira nacionalização desde 1975 - o BPN pertence agora ao Estado e está a ser gerido por uma equipa da Caixa Geral de Depósitos. O Governo recusou a proposta de Miguel Cadilhe de recuperação do banco de forma partilhada entre o Estado e os seus accionistas e a recuperação do banco pode custar cerca de mil milhões de euros.

O Governo teve ainda de intervir, através do Banco de Portugal, no Banco Privado Português, uma instituição de gestão de fortunas que viu o seu presidente João Rendeiro sair. João Rendeiro foi durante anos em Portugal uma referência no mundo financeiro. Seis bancos salvaram o BPP da falência: além dos cinco grandes, CGD, BCP, BES, BPI e Santander Totta, o grupo Caixa Agrícola.

Após uns dias offline




quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Tirem-mo do cima senão eu mato-o

O ministro das Finanças ameaçou os bancos de suspender a garantia de Estado caso não concedessem crédito às empresas.

O ministro das Finanças sabe que:
  • se suspendesse a concessão de garantias - que aparentemente os bancos privados, numa primeira fase, até se estavam a preparar para não usar - aumentava significativamente o risco do sistema financeiro português - ou seja, criava a possibilidade de se fechar o financiamento externo à banca portuguesa, o que seria a sua e nossa morte económica e financeira
  • que os bancos depois das asneiras que fizeram puseram não trancas mas ferrolhos nas portas
  • que os bancos estão a usar - por enquanto só a CGD - os financiamento para renovar linhas de crédito no exterior e não para se endividarem ainda mais. O que significa que não têm muita margem para conceder mais crédito
  • não têm ainda muita margem para conceder mais crédito porque, por causa do Reino Unido, um banco sólido aos olhos internacionais terá de ter um rácio de solvabilidade de 9% (Tier1). Abaixo disso é olhado com desconfiança. O crédito "come" capital e poucos querem aumentar o capital - os investidores olham com desconfiança para a banca, basta olhar para as suas cotações
  • as perspectivas para as empresas portuguesas são muito negativas e, como tal, é racional que a banca não queira conceder-lhes crédito. Quem nos dera que tivesse tido essa racionalidade no passado.

Não tendo instrumentos fáceis para fazer política económica o ministro das Finanças fez só política.

Mas há alguns instrumentos.

A única via de aumentar facilmente o crédito à economia é fazer aquilo a que se assiste nos Estados Unidos - apoios directos a empresas específicas ou crédito concedido pelo banco central.

  • Apoios a empresas específicas é possível neste momento - a Comissão Europeia tem orientações do Conselho para fechar os olhos e o limite máximo de ajudas foi aumentado para 500 mil euros.
  • Crédito através do banco central - é mais complicado, teria de se convencer o BCE - ou seja, os alemães - e mesmo assim esse financiamento poderia não chegar cá.

O mundo está (mesmo) estranho

Portugal e a Alemanha são os países com a mais baixa taxa de inflação da zona euro - 1,4% em Novembro:
  • Para Portugal é mais um reflexo do rendimento a afastar-se da média europeia, a par do actual problema conjuntural. Num processo de convergência os preços deviam estar a subir mais em Portugal pelo conhecido efeito Balassa-Samuelson
  • Para a Alemanha e Portugal - e provavelmente a França (com 1,9%) - é um sério alerta para o risco de entrarmos num processo de deflação.
  • Como a medida da inflação usada (o índice de preços no consumidor) sobre-estima a inflação podemos já estar em queda de preços, o que não sendo deflação é uma das sementes do monstro

A taxa de juro de referência nos Estados Unidos está no máximo em 0,25% e já vimos aqui e aqui que há investidores dispostos a dar dinheiro ao Estado norte-americano ou mesmo a pagar para lhe conceder empréstimos.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Vendo as diferenças

Será que o Congresso norte-americano vão fazer uma Comissão de Inquérito para apurar a responsabilidade da Reserva Federal e da CMVM lá do sítio (a SEC) no caso Madoff?

Porque não terão eles detectado eles o caso Madoff? Afinal deveriam saber que não era possível estar sempre a oferecer rendibilidades de 10%.

Talvez este exemplo sirva para alguns protagonistas políticos perceberem melhor os casos BPN e BCP. E focarem as suas atenções nos responsáveis pelas fraudes. Em vez de atacarem o Banco de Portugal.

O tempo é de justiça e não de politiquice. Política sim para reflectir sobre o que fazer para corrigir o sistema.

É o dinheiro, estúpido

Gerard Madoff geria 17,1 mil milhões de dólares mas a perda potencial da sua fraude à Ponzi (ou à Dona Branca) é da ordem dos 50 mil milhões de dólares para bancos e investiodres individuais.

sábado, 13 de dezembro de 2008

O plano Sócrates anti-crise

O Governo anunciou hoje aquilo que se pode de facto considerar um Plano anti-crise.

Os problemas conjunturais são:
  • Dificuldade das empresas micro, pequenas e médias no acesso ao crédito
  • Aperto de tesouraria com os clientes a pagarem mais tarde, as empresas a venderem menos e alguns impostos (como o Pagamento Especial por Conta) indexados a valores do passado quando se vendia mais.
  • Falências com ameaça de aumento do desemprego.

As medidas apresentadas orientam-se exactamente para esses problemas. Alguns exemplos:

  • Linhas de crédito, fundos de reestruturação industrial e de financiamento de projectos (neste caso para as agro-indústrias e agricultura)
  • Redução do limite mínimo do Pagamento Especial por Conta de 1250 para 1200 euros; redução das contribuições para a segurança social para empregados com mais idade; compromisso de acelerar a devolução do IVA;
  • Alargamento temporário do subsídio de desemprego por mais seis meses; apoios a empresas que precisem de reduzir temporariamente a actividade económica.

Juntam-se a estas medidas de carácter mais conjuntural, o reforço do crédito ao seguro para exportação e uma linha de financiamento à exportação mais vocacionada para aumentar as vendas ao exterior, bem como a promoção no exterior - esta última sempre com eficácia duvidosa.

Do lado dos estímulos à economia por via do aumento da Procura, destacam-se as iniciativas de investimento público de obras em escolas, incentivos ao investimento em banda larga e no aumento da eficiência energética.

Parece ser um plano um bocado melhor pensado.

O défice público vai aumentar dos 2,2% previstos para 3% em 2009.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Dívida pública ou caos

Endividar o Estado para tirar a economia da crise é um erro tão ou mais grave que o endividamento das empresas, dos bancos e das famílias, o boom de crédito privado a que assistimos na última década?

Gabriel Silva do Blasfémias apoia o ministro das Finanças alemão Peer Steinbruck que pensa que sim: os Estados estão a cometer o erro do endividamento que esteve na origem desta crise.

O endividamento do Estado não coloca os mesmos problemas que o endividamento do sector privado:
  • É mais fácil de corrigir - com inflação i.e redução do poder de compra do país ou aumento de impostos i.e poupança forçada das famílias e empresas.

Se o problema hoje do mundo ocidental fosse o excesso de endividamento do Estado - afinal o agente económico menos endividado apesar de andarmos há décadas a falar do défice público - estaríamos muito mais confortáveis.

  • Do ponto de vista financeiro, a presença do Estado no mercado de crédito é, neste momento, um dos únicos instrumentos para manter esse mercado a funcionar e, como tal, a actividade económica.

As economias actuais - empresas e famílias - não funcionam sem crédito. E isso não é negativo, pelo contrário, permite colocar aforradores e investidores - procura e oferta de financiamento - facilmente em contacto. Viabilizaram-se assim muitos projectos/ideias que de outra forma nunca existiriam (este espaço é um deles). As famílias anteciparam consumos em função do seu rendimento permanente ( a função consumo dependente do rendimento permanente e não do disponível, uma ideia de Milton Friedman). O problema não foi o crédito mas sim uma deficiente avaliação dos riscos feita pelo financiador, os bancos.

  • Do ponto de vista económico, a ausência do Estado neste momento como motor financeiro da economia (endividando-se) lançaria os países para o colapso social e político. Viveríamos falências e desemprego em níveis inimagináveis.

Obviamente que as escolhas dependem da curva de preferências de cada um.

Eu prefiro ter um longo prazo com mais inflação - neste momento a ameaça parece ser de deflação, pelo menos nos Estados Unidos - que um curto prazo de caos social e político que ninguém consegue prever como acabaria.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O milionário alemão...e a VW

Em finais de Outubro vários investidores perderam milhões a jogar na descida da VW. Outros, obviamente ganharam. Nunca se soube bem quem...

Eis que agora s esabe que um multimilionário alemão com mais de 70 anos e membro de uma das famílias mais ricas do país, com negócios na indústria farmaceutica e materiais de construção perdeu a fortuna familiar nesse jogo.



Neste momento está a ameaçar os bancos de falência. Os bancos dizem que ele não está em condições d efazer ameaças. Precisa de quase mil milhões de euros. E está a tentar "entrar" no grupo dos que "são demasiado grandes para falir".

Uma história que expõe dramaticamente como se distorceu o mercado de capitais.
Muitas empresas têm hoje prejuízos ou lucros reduzidos porque usaram as suas margens (o Ebitda) para aplicar na bolsa. Com todos a tentar comprar barato e vender caro e poucos a investir em novos negócios ... o caminho estava traçado.

Além dos aspectos de supervisão bancária vale a pena reflectir sobre os efeitos perversos que um mercado financeiro desregulado teve. Jogou contra a criação de valor.

A ler a história de Adolf aqui e aqui
E quem é Adolf Merckle

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A recessão à porta

A economia portuguesa está a crescer cada vez menos desde o quarto trimestre de 2007.

Apesar disso, o Governo insistiu no discurso do "vai tudo bem". E sem nunca dizer que iríamos escapar da recessão foi dizendo, a cada momento e agarrando-se à parte meio cheia do copo, "escapámos à recessão" - assim foi quando o INE divulgou a sua estimativa rápida para o PIB.

Hoje o INE divulgou os números com mais informação e regista-se uma quebra da produção no terceiro trimestre face ao segundo. É marginal. Mas os números que determinaram essa queda antecipam o pior: o investimento caiu e as exportações estão a abrandar.

Mais, os números mais recentes das exportações apontam para uma queda nas vendas para os países da zona euro (menos 1,1% entre Julho e Setembro deste ano, face a igual período de 2007) - como se esperava com a Alemanha e a Espanha em recessão.
Portugal vai, infelizmente, terminar o ano em recessão. E se nada mudar no quadro internacional, especialmente nos mercados de crédito e de capitais, o primeiro semestre do próximo ano vai ser muito difícil.

Há pouco dias o Governo mudou de discurso. Passou a ter declarações mais ajustadas à realidade. O que os números de hoje do INE revelam é que, enquanto o Governo - primeiro-ministro, ministro das Finanças e ministro do Trabalho - tiveram o discurso de "estamos a resistir" já muitos portugueses estavam em dificuldades.

Gerir expectativas assim desacredita os líderes. E nestes tempos difíceis, os portugueses precisam mais do que nunca de líderes.

O início do século XXI não tem sido generoso para Portugal.

domingo, 7 de dezembro de 2008

BPN e Casa Pia

Marcele Rebelo de Sousa hoje na RTP,
- Para exemplificar que o caso BPN nada tinha a ver com a actual liderança do PSD usa como comparação o caso Casa Pia (que, subentendeu-se, nada tinha a ver com a então liderança do PS)

Muito interessante.

A decisão de nacionalizar o BPN tem ainda um "racional" com falhas.
A proposta de Miguel Cadilhe - em que os esforço de recuperação do banco era partilhado entre o Estado e os accionistas - foi rejeitado sem qualquer negociação. (A remuneração oferecida ao Estado poderia ter sido negociada)

Sairia mais barato aos contribuintes portugueses.
Um dos contra-argumentos que me apresentam é: se os accionistas não tiveram dinheiro para a segunda tranche do aumento de capital que garantias existiriam de que tinham dinheiro para o novo plano. O pior é que os accionistas dizem que não aumentaram o capital porque já se sabia que o Governo ia decidir pela nacionalização.

Enfim. Esperemos que Marcelo não tenha razão. Viveremos infinitamente em efeito ricochete - saltando de casos em casos - com pouca Justiça.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Banco de Inglaterra - que diferença

Como votaram os membros do Banco de Inglaterra na decisão sobre taxas de juro durante os últimos doze meses.

A transparência que falta ao BCE.

Eis uma forte razão para os britânicos não quererem entrar no euro.

A Alemanha a cair

A economia alemã registará uma quebra na sua produção de 0,8% em 2009 com recuperação em 2010, uma previsão do Bundesbank .

Esta é uma péssima notícia.

Os dois maiores clientes das exportações portuguesas estão com graves problemas.

A exportação de mercadorias para Espanha e Alemanha correspondem a cerca de 40% das exportações portuguesas (dados de 2006, fonte Banco de Portugal)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O Banco Privado e os incentivos perversos

Foi publicado o Despacho com a garantia ao Banco Privado Português.

Oficialmente continuamos sem saber quais as garantias que o Estado recebeu.

Porque vale a pena reflectir sobre os efeitos perversos deste apoio ao BPP tomo a liberdade de sintetizar alguns dos comentários que estão aqui:

De NG
  • "As «lideranças portuguesas» podem defender os princípios que quiserem e podem não ser obrigadas a fazer o aumento de capital indispensável para salvar o banco (até porque podem não ter o dinheiro necessário). (...) O que não podem é passar por este sarilho em que comprometeram todos os contribuintes portugueses sem uma proporcional punição moral e patrimonial. Sob pena de, de hoje para amanhã, deixar de haver gente interessada em cultivar os campos, investir em fábricas, construir casas, por a actividade com menor risco em Portugal passar a ser a economia da fantasia de comprar activos com dinheiro emprestado a contar que eles se valorizem no dia seguinte (e dar-lhe uns nomes bonitos como alavancagem, Private Banking ou Corporate Advisory para disfarçar)."

Ainda de NG:

  • "Só existe uma (causa para esta crise), global e transversal: Nome técnico - Alavancagem. Alguns sinónimos: «com as calças do meu pai também eu pareço um homem», «gastar hoje o que talvez venha a ganhar um dia», «querer parecer mais do que aquilo que se é», «ganância», «gastar o que não se tem», «jogar com o dinheiro de outros», «armar-se aos cucos», «parecer mais que do ser», «contar com o ovo no da galinha», «arriscar mais do que se deve»,«aventureirismo», «economia de fantasia», «ganhar 20 e gastar 100», «vencedor dos mercados», e por aí fora..."

E o que se está a fazer ainda segundo NG:

  • "O mercado não é tonto por muito tempo e, tarde ou cedo, fala e gosta de ser ouvido. Mascarar a sua mensagem com bailouts e intervenções artificiais sem retirar consequências das imprudências é adiar e agravar as soluções.Ou esta crise consegue devolver uma certa humildade e sobriedade às pessoas, às empresas e aos mercados ou o que sobrar dela e o pouco que se consiga criar entretanto será por completo arrasado na seguinte."

Subscrevo inteiramente os alertas de NG. A questão é que solução?

  • Os accionistas do BPP - como de outros bancos por esse mundo fora - estão a beneficiar a externalidade extremamente negativa da sua falência. Os governos não têm outra alternativa - têm de intervir.
  • A questão pode estar em Como intervir? Estarão a intervir da forma mais adequada, aquela que minimiza o "moral hazard"? Estarão a minimizar os incentivos perversos de que fala NG? Absolutamente não.
  • A única via que vejo de combater os incentivos que vão germinar numa nova crise, ainda mais grave, seria ficar com os activos desses investidores: nacionalizar sem direito a indmenização. Do ponto de vista da racionalidade económica faz todo o sentido: o banco transformou-se num bem público, não peas sua características de indivisibilidade e não-rivalidade mas pelas externalidades negativas geradas pela sua falência.

O BCE... vale mais tarde



O BCE fez hoje um corte histórico nas suas taxas de juro de referência.

A partir de dia 10 o dinheiro passa a custar aos bancos 2,5% - operacções semanais de refinanciamento a uma taxa fixa desde 15 de Outubro e satisfazendo todos os pedidos de recursos.

O BCE percebeu finalmente que deve estar mais preocupado com o sistema financeiro que com a inflação.

É extraordinário o tempo que levou a entender a dimensão do problema. A Reserva Federal está a descer agressivamente a sua taxa de referência de 18 de Setembro de 2007, pouco mais de um mês (9 de Agosto) da primeira intervenção global para enfrentar os efeitos da crise dita "subprime".

O BCE, pelo contrário, resolveu aumentar a sua taxa de referência de 4% - onde se manteve - para 4,25% dia 3 de Julho de 2008 - sim já este ano. E porquê? Por causa da inflação que estava a subir para valores da ordem dos 3%.

E porque estava a subir a inflação? Por causa da subida dos preços do petróleo e dos cereais... Ou seja, não era inflação.

Por inacreditável que pareça o BCE comete nesta crise exactamente o mesmo erro que em 2000 e 2001 quando, apesar do crash bolsista e de todos os sinais de recessão nos EUA insistiu em subir as taxas de juro e teimosamente afirmou - na altura Wim Duisenberg - que a Zona Euro não seria afectada pela crise norte-americana.

A análise económica no BCE está a precisar de ser mais aberta e menos ortodoxa. De olhos postos na Fed.

Como consequência da sua ortodoxia, o efeito de alívio no orçaento das famílias e empresas, tão necessário já neste momento arrastar-se -á por todo o primeiro semestre.

É verdade que a política monetária tem nesta crise efeitos limitados e pode até em parte ser nefasta, mas poderia contribuir mais para a moderação da crise.

O que disse hoje Jean-Claude Trichet

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Ainda o Banco Privado

Vale a pena ler
"Os novos pobres" na Câmara Corporativa.

Digo eu:
- o problema da legalidade é importante,
- mas mais grave para o país é ver as lideranças portuguesas na economia e nas finanças a usarem sem qualquer embaraço o apoio do Estado para salvarem um banco que é seu e que tinham a obrigação de salvar - ou pelo menos participar com dinheiro na sua recuperação - em defesa da sua honra e dos princípios de mercado que dizem defender.

Que diremos nós quando os ouvirmos a defender o mercado?
O mercado não é apenas para a classe média e para as classes baixas. Pensávamos que era para todos.
Afinal estávamos enganados.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O Banco Privado ...Público

O modelo de salvação do Banco Privado Português foi hoje divulgado pelo Banco de Portugal.


  • O Tesouro fica com garantias que se afirma avaliadas em 672 milhões de euros para avalizar o empréstimo do grupo de seis bancos no montante de 450 milhões de euros. (Não sei que activos são esses)
  • A presidência provisória do banco fica a cargo do BCP. Os restantes elementos são da CGD, do Banco de Portugal - o director de supervisão bancária - e o BPI.
  • Ainda de acordo com o comunicado o O Estado concede às seis Instituições de Crédito uma garantia no quadro da Lei nº 112/97, de 16 de Setembro, com referência especial à alínea c) do n.2 do Artigo 9º, que refere como objectivo a «manutenção da exploração enquanto se proceda…ao estudo e concretização de acções de viabilização»; Nas reticências, que o comunicado não refere, está escrito no diploma «por intermédio de qualquer entidade designada pelo Governo»

Pretende o Governo avaliar a viabilização do Banco Privado Português?

A administração provisória tem esse mandato?

Há dúvidas quanto à viabilidade do BPP?

Lamento continuar a considerar esta solução uma lamentável e gravíssima solução. Com efeitos graves para a convicção e a atitude face ao mercado.

Continuo sem perceber porque é que os accionistas não fizeram parte da solução.

Não se podia deixar cair o banco. Compreendo os argumentos do ministro das Finanças em Bruxelas.

Compreendo menos que um banco que conta como accionistas, como elementos do Conselho Consultivo, como elementos do Conselho de Administração, enfim, como elementos dos seus órgãos sociais algumas das pessoas de referência da sociedade portuguesa não tenha conseguido encontrar uma solução com a participação desse mesmo sector privado.

Um banco, como muitas empresas, que é de todos e não é de ninguém.

E por isso ninguém considera que o banco seja seu, ninguém se considera um banqueiro responsável pelo património que lhe entregaram à guarda.

Esta crise financeira revela o que de pior tem o capitalismo dito popular.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

domingo, 30 de novembro de 2008






A foto de um dos terroristas que atacou a estação de caminhos de ferro tirada por Sebastian D'Souza do Mumbai Mirror.

Azam Amir Kasav, com 21 anos, sobreviveu. A história contada no Mumbai Mirror

E o que conta o repórter fotográfico Sebastian D'Souza aqui

O cidadão jornalista em Mumbai

O jornalismo do cidadão comum no seu expoente máximo nos ataques em Mumbai.
Com as suas virtudes:

O mesmo jornalismo participativo e os problemas que coloca como fonte de informação:

Actualização: acrescento o post de António Granado

sábado, 29 de novembro de 2008

Demasiado grande...



"(...) Se há empresas privadas demasiado grandes para irem à falência, como os próprios estados, das duas uma: o problema está ou em serem demasiado grandes ou em serem privadas."
José M. Castro Caldas
Em Portugal nem o BPN nem o BPP eram demasiado grandes.
O que amplia ainda mais esta questão.
Se queremos banca privada - não pelo simples querer, mas porque se conclui que melhora a eficiência - a supervisão e a ordem financeira mundial tem de mudar muito.

O custo de salvar o BPP

O Governo afirma, revela o Expresso, que salvou o BPP para evitar:
  • um efeito negativo na imagem externa de Portugal
  • um efeito negativo na confiança dos portugueses no sistema financeiro.

O Governo deu mais peso a estes factores. Tem dados que nós não temos, nomeadamente o endividamento do BPP ao exterior e os efeitos que a sua falência poderia ter nos compromissos dos outros bancos perante o exterior.

Portugal é um país endividado face ao exterior - só este ano precisamos de um financiamento equivalente 10% do PIB, o equivalente a 47 milhões de euros por dia.

Criar factores de desconfiança na capacidade do país - leia-se, banca - pagar as suas dívidas poderia ser fatal para toda a banca. O problema é que o ministro das Finanças disse ao Negócios que o BPP não tinha risco sistémico. Afinal parece que tem.

Foi esse risco que parece - ainda ninguém o disse oficialmente - terá levado o Governo a salvar o BPP.

Foi esse risco que transformou o BPP num bem público e permitiu que os accionistas olhassem para o problema como mais dos outros - portugueses - que deles. De qualquer forma, os veículos onde têm o seu dinheiro investido está em perda e muito provavelmente não seriam afectados pelo queda da parte bancária do banco. Tudo isto se compreende, tudo isto é racional.

Mas há outras racionalidades. Há um gravíssimo efeito perverso em tudo isto, sintetizado também hoje em parte no artigo de Miguel Sousa Tavares:

"Se você é grande accionista do BPN ou do BPP e deve 500 ou 750 milhões de euros, não se preocupe que tudo será feito para acorrer em seu auxílio. Nos anos bons cobram-lhe não mais de 15% efectivos sobre os seus extraordinários lucros (...), nos anos maus acodem-lhe aos prejuízos. Mas se você tem o azar de ser tributado apenas no IRS pelo seu trabalho, facilmente lhe levam 42% dos seus rendimentos e começam a debitar juros no primeiro dia de incumprimento" Miguel Sousa Tavares, Expresso 29 de Novembro de 2008

E isto é o mínimo que se pode dizer sobre os efeitos perversos da história de salvação dos bancos que está a decorrer em Portugal.

Já tinha defendido aqui que o BPP era um caso diferente do BPN. É pena que os seus accionistas não tenham estado disponíveis para resolver o problema de liquidez do banco.

Mumbai

ABC News

Mumbai



sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Orçamento de 2009 aprovado

O Orçamento mais afastado da realidade de que pode existir memória foi hoje aprovado na Assembleia da República.

É pena que não se tivesse feito um esforço - ou não tivesse havido tempo - para ajustar o documento a uma realidade e para uma previsão que mudaram muito deste Outubro.

Um Orçamento com um pé fora da realidade.

O Privado engenhosamente salvo

O Banco Privado acabou por ser apoiado de forma engenhosa e sem recurso à lei das garantias.

Um grupo de seis bancos, que inclui os cinco grandes mais o grupo Caixa Agrícola, vão financiar o Banco Privado mediante uma garantia dada pelo Estado que por sua vez empenha activos do Privado. Um modelo semelhante ao seguido pelo governo alemão a 7 de Outubro com o Hypo Real State.

Não era possível deixar cair um banco na actual conjuntura, dizem-me. Nenhum país europeu o fez.

Quanto ao facto de os accionistas não serem chamados a aumentar o capital o que me dizem é que o Banco não tem um problema de solvabilidade - o seu rácio é dos mais elevados do sistema, segundo as contas do terceiro trimestre deste ano -, mas sim um problema de liquidez.

Além disso o apoio dirige-se apenas à parte bancária da instituição e não aos veículos.

Quando a tempestade se acalmar vai ser preciso pensar seriamente no enquadramento da banca.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O BPN e o mistério dos depósitos da Segurança Social

"...Soube-se que a Segurança Social, através do Instituto que gere as respectivas finanças, teria em depósito (D/O) no BPN qualquer coisa como € 500 milhões…O Ministro da pasta veio explicar que isso seria natural pois a Segurança Social gere um fundo de maneio da ordem de € 2.000 milhões…
3. Eu direi que isso não é nada natural, bem pelo contrário, pois significa que 25% de todo fundo de maneio da Segurança Social estaria depositado num Banco cuja quota de mercado não chegava a 2%...
(...)
O problema não fica por aqui pois também se soube que, só no mês de Agosto, a Segurança Social teria levantado qualquer coisa como € 300 milhões do BPN – 60% do montante depositado - arrasando literalmente a tesouraria do Banco…como arrasaria a de muitos outros bancos da praça se fossem contemplados com semelhante hemorragia de fundos num prazo tão curto e numa época tão difícil..."
Tavares Moreira, ex-governador do Banco de Portugal no Quarta República
Este é um dos pontos do caso BPN que deveria ser melhor esclarecido.

A viabilização do BPP

A RTP sabe que o presidente executivo do BPP, João Rendeiro, conseguiu um financiamento de 500 milhões de euros, dinheiro proveniente de vários bancos portugueses. O negócio foi intermediado pelo Banco de Portugal.

O BPI é, aparentemente, um dos bancos que integra o grupo que garantiu o financiamento ao banco.

Se assim for, poderemos estar perante um caso em que o mercado encontrou a solução.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O BPP e o Finibanco - as diferenças

O Finibanco vai aumentar o seu capital e abriu a possibilidade de esse reforço ser participado por novos accionistas.

Da parte do BPP nunca foi colocada, pelo menos em público, a possibilidade de aumento do capital antes de recorrer à garantia do Estado. O que é difícil de compreender.

No Negócios defendi que o apoio público ao BPP deveria ser muito limitado.
O Banco de Portugal está a tentar encontrar uma solução para o BPP de forma a evitar que feche as portas com prejuízo para quem tem as suas poupanças ali investidas.

No processo do BPP além da estranheza que causa a ausência de iniciativas - pelo menos públicas - dos accionistas, uma das revelações causadora da maior perplexidade é o facto de João Rendeiro (na Foto de Miguel Baltazar ) ser funcionário público em licença sem vencimento ilimitada.

Nunca entrevistei o presidente do BPP. Pelo que li admito que seja um defensor do mercado e da necessidade de ser empreendedor - como foi - assumindo os riscos. Mas de facto é racional ter sempre uma rede de segurança.

O perigo da fragilidade institucional

Esta começa a ser a minha preocupação. Crise financeira, recessão económica e fragilidade das instituições é uma mistura explosiva.

A instabilidade financeira e a perspectiva de uma grave crise económica parece ter reacendido violentamente entre nós uma fúria de auto-destruição, do país e das instituições. Presidência da República, Banco de Portugal, Autoridade da Concorrência, Educação, Universidades... juntam-se agora aos habituais alvos que têm sido a justiça e o sistema de saúde. Não temos razões de queixa? Claro que temos. Mas entre a destruição e a crítica vai uma longa distância. (ler mais)

Foi essa preocupação que tentei também transmitir aqui com os exemplos do BCCI e Barings.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Paris no combate à crise

O governo francês vai oferecer seguros de crédito a empresas em risco.

São empresas que deixaram de ter acesso a essa cobertura de risco por parte das seguradoras privadas. Paris fornece esse seguro através da sua seguradora pública.

As previsões da OCDE



São as previsões da OCDE hoje divulgadas.

As perspectivas são ainda mais desanimadoras quando se olha para as previsões que ali se lêem para a esmagadora maioria dos países da OCDE.

Na zona euro a recessão é inevitável, com acentuadas reduções no investimento privado. De tal forma que o investimento público apenas consegue moderar a queda.

Instintos autofágicos

Pela manhã no trânsito a ouvir as análises à intervenção do Presidente da República no quadro do caso BPN e à entrevista do governador do Banco de Portugal à RTP1...

Ouvir vezes sem conta... "Isto só em Portugal"...
Será possível que alguém informado acredite
»que casos BPN em que as autoridades detectam tarde as fraudes
»que ligações de altas figuras do Estado com responsáveis de empresas sob suspeita,
.... Só existem em Portugal?

Numa rápida busca online é possível encontrar alguns casos menos recentes:
  • O caso BCCI no Reino Unido - fraude não detectada e realizada por várias pessoas

With the benefit of years of investigations it now appears that
BCCI’s financial statements were falsified ever since the bank was founded in 1972
(Basel Committee, 2004, p. 49). That this escaped detection for
nearly twenty years shows how effectively the complex international corporate
structure it devised
shielded it from scrutiny by external accountants,
supervisors or regulators
.

E ainda aqui o relatório do senado dos EUA sobre o assunto - vale a pena ver a relação como Kissinger

  • O caso Barings - também no Reino Unido, a fraude de uma só pessoa

While losses at BCCI cumulated gradually over a number of years, the fatal losses at Barings occurred over a few weeks because they were attributable to highly leveraged bets in futures markets.

Sinais (violentos) da crise que aí vem

Em 2009 o desemprego atingirá quase 500 mil pessoas em Portugal (actualmente - 400 mil)

Em 2009 Vendas de telemóveis vão cair pela primeira vez desde 2001

Porsche fecha principal fábrica durante sete dias

Concessão de crédito da ASFAC cai 2,6% no terceiro trimestre de 2008 em Portugal

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O BPN e o Presidente

Pode o Presidente da República demitir um Conselheiro de Estado?
Não me parece pelo que se lê da Lei nº 31/84 de 6 de Setembro a que cheguei via Câmara Corporativa.

O Presidente remeteu hoje os jornalistas para a legislação quando questionado sobre o Conselheiro Dias Loureiro, escolhido por si.

Pouco tempo depois Dias Loureiro declarou à TSF que renunciaria ao cargo se a sua presença no Conselho de Estado causasse incómodo ao Presidente.

domingo, 23 de novembro de 2008

Está viabilizada a comissão de inquérito parlamentar ao BPN.
Há muito a explicar, como diz Vital Moreira.

Dias Loureiro não consegue explicar como fez o alerta ao Banco de Portugal se não sabia de nada.
António Marta afirma que a conversa que Dias Loureiro diz ter tido com ele não existiu.
O governador do Banco de Portugal ouvido no Parlamento chegou a dizer que se houve queixas foi no sentido de se estar a acompanhar demasiado de perto o BPN.

A supervisão é, há décadas, feita no pressuposto que os banqueiros são idóneos.
Como Jacinto Nunes explicou no Negócios (Weekend publicado na sexta-feira), a supervisão era feita ao almoço.
Detectadas as irregularidades, o passo seguinte era uma reunião com o banqueiro para corrigir a situação.
"Somos todos pessoas civilizadas, que resolvem os problemas de forma civilizada" - é e era o princípio.
"Os problema nos bancos têm de ser resolvidos na discrição dos gabinetes por causa dos efeitos catastróficos que a sua resolução em praça pública podem ter na confiança no sistema financeiro e na economia" - é outro grande princípio.

Somos todos civilizados até a violência da realidade acabar com a civilidade.
O BPN foi apanhado pela violência da realidade e ninguém reparou.

Oliveira e Costa agora preso não pode ser o único.

As notícias
que se podem ler:
Portugal Digital
E ver (em que Dias Loureiro diz que vai ao banco central pelo 'brua' que se ouvia)
RTP

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O que o desemprego tem aumentado


O desemprego saltou desde 2003 de 200 mil para o patamar das 400 mil pessoas.
Desde essa altura não voltou a descer.
Esta crise pode lançar o número de desempregados para uma nova subida.

Perspectivas

De regresso.
Os tempos têm estados difíceis, instáveis, complicados, complexos para quem tem a pretensão de acompanhar a realidade económica e financeira e tentar compreender o que se passa e especialmente o que vai acontecer.

Está a ser um ano impróprio para quem preza a estabilidade. E a actividade económica é amiga da estabilidade.

Na primeira metade do ano tivémos o petróleo em máximos, as matérias-primas em máximos, ameaças se forte subida na inflação... E a ilusão que o terramoto financeiro tinha sido resolvido.

No último trimestre - especialmente após a falência da Lehman Brothers - as réplicas do terramoto financeiro foram ainda mais violentas. As autoridades ficaram desorientadas, aparentemente tinham-se convencido que o problema estava ultrapassado.
De repente enfrentamos de novo a crise financeira, a perspectiva de aperto acentuado de crédito, o petróleo e as matérias-primas a afundarem-se e a ameaça de queda de preços com recessão.

O ano de 2009 promete ser especialmente difícil.
O aperto na concessão de crédito começa agora a fazer os seus estragos.
A recessão é inevitável. E ninguém arrisca dizer se vai durar pouco, como no passado, ou muito tempo.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Estranhos e preocupantes acontecimentos

Os acontecimentos sucedem-se de forma estonteante...
Nacionalização do BPN com uma Lei das Nacionalizações assustadora.
Vamos ver o que vão dizer os deputados.

A declaração de Miguel Cadilhe é de uma violência que tem de ter forçosamente uma razão.

Em que mundo estamos nós?
A crise financeira não pode ser pretexto de abusos do Estado contra a liberdade económica. Depois de ter falhado na regulação o Estado não nos pode tirar a liberdade de iniciativa.

Começo a ficar seriamente preocupado. Crise financeira, crise económica e limitação da liberdade... É a imagem do terror.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

VW - O erro de previsão dos 'shorters'



É a acção da semana, como se escreve hoje no Negócios.
Em duas sessões as acções da VW foram multiplicadas por mais de quatro, passando de pouco mais de 200 euros para mais de 900. Chegou a ser negociada a 1.005,01 euros.
A loucura tem origem na comunicação da Porsche: anunciou no domingo passado que detinha mais de 74,1% da empresa.
Como antes disso as perspectivas eram de queda do título (afinal todo o sector automóvel esta em queda) - grande parte dos investidores estavam posicionados para a desvalorização e não para a subida. Ou seja, o título estava muito "shortado" - investidores tinham pedido acções emprestadas, tinham-nas vendido e estavam a comprar na baixa para devolver os títulos.
Repentinamente viram que iam perder dinheiro. Com a posição que a Porsche já detinha, sobrava 5,8% do capital no mercado para ser transaccionado livremente. De repente os títulos da VW transformaram-se num bem escasso: todos em busca de acções para satisfazer os compromissos. Os fundos de alto risco - hedge funds - foram os mais castigados. Estimam-se perdas de 30 mil milhões de euros.
Por aqui a história.

domingo, 26 de outubro de 2008

Samuelson, o mestre


Adeus ao capitalismo de Friedman e Hayek
de Paul Samuelson
via Câmara Corporativa.

Um extraordinário artigo do mestre dos mestres em Economia.

Diria apenas que não se pode apenas responsabilizar a falta de regulação - houve défice de regulação em algumas áreas, que foram fatais - mas tivémos também reguladores capturados pelos regulados como alerta Nuno Garoupa em "A mentira dos mercados desregulados".

Regularam-se as colheres de pau, os galheteiros, as bolas de Berlim, as matrículas dos automóveis... enfim... uma longa lista que todos os dias vai crescendo, basta etsar atento à Comissão Europeia.
Enquanto o sistema financeiro - tão muito mais importante para a sanidade do mundo - foi deixado entregue a si próprio, mesmo nas áreas em que era regulado.

O mistério da Garantia do Estado

Via Blasfémias
Garantia do Estado a bancos: mas que formosura!... de Tavares Moreira na Quarta República.

A ler e reflectir ainda propósito da sucessão de comunicados dos cinco grandes bancos nacionais.
Ficamos sem perceber se os bancos precisam ou não da garantia.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Garantia de Estado em acordo

Os cinco maiores bancos, um por um, afirmaram ao longo da tarde de hoje que a vão usar a garantia de Estado para se refinanciarem.


O Governo regista com agrado essa decisão.

O presidente do BPI Fernando Ulrich em dia de apresentação de resultados, confirma que Governo, Banco de Portugal e os cinco maiores bancos conversaram para adoptarem em conjunto esta posição.

No início da semana cada um dos bancos por si tinha dito que não previa usar a garantia.

Interessante esta história. A que se aplica bem a teoria de jogos, o jogo do Dilema do Prisioneiro.

Há (mesmo) coisas muito boas na net

Fantástico o site de Paulo Querido sobre o Orçamento do Estado para 2009.
Só hoje o encontrei.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quem me dera...

... Ter comprado uma casa que não podia pagar
... Ter pedido ainda mais dinheiro emprestado por conta da casa para comprar carro, mobilar a casa e fazer as férias de sonho
... Ter emprestado a quem não podia pagar, se fosse banqueiro
....Ter emprestado 100% do valor da casa para que pudessem comprar também o carro e mobilar a casa, se fosse banqueiro

Hoje estaria o Estado a premiar a minha irresponsabilidade com os impostos que todos pagam.

(Sim, é um post agressivo. Mais triste que agressivo...Porque não se está a medir a grave dimensão dos incentivos perversos que se estão a construir só porque não se quer expor as dificuldades efectivas da banca).

O sistema financeiro tem de ser ajudado com o dinheiro que for necessário. O impacto de não o ajudar é muitíssimo mais grave para todos nós.
Mas é preciso desenhar apoios que evitem seriamente incentivos perversos. O Fundo de Arrendamento, consagrado no OE 2009, não respeita esse princípio.
Sofre de graves incentivos perversos para a banca e para as famílias. A factura chegará no futuro. Com mais irresponsabilidade...

O capitalismo está morto! Viva o capitalismo


O cartoon de Kal no Economist

domingo, 19 de outubro de 2008

A crise e o pêndulo

imagem retirada daqui
Andamos de facto muito confundidos:
O fim do Socialismo via Atlântico
O fim do Capitalismo, de alguma forma a ante-visão que marca o Ladrões de Bicicletas.

Visões que trazem à memória conversas antigas:

Todos os anos há alguns anos Ernâni Lopes promove um encontro com um grupo de jornalistas. Nós jornalistas estamos sempre focados no curto prazo - não é uma auto-critica, é uma constatação ditada pela natureza do que é em parte o que temos obrigação de oferecer aos nossos leitores.

Ernâni Lopes detesta em geral essa abordagem - do tipo quanto vai crescer a economia este ano? O desemprego vai subir este ano? O que pensa do Orçamento do Estado? As taxas de juro... a taxa de câmbio... o petróleo... vão subir, vão descer? Ou deve-se privatizar isto ou aquilo...

Num desses encontros - não me recordo exactamente qual era o tema mediático na moda mas era algo relacionado com privatizações e liberalização.

Ernâni Lopes usou a metáfora do pêndulo que levado longe de mais no seu movimento regressaria ao outro lado mais cedo ou mais tarde.

O pêndulo foi levado longe de mais na desregulamentação e liberalização. Como antes tinha sido levado longe de mais nas nacionalizações e regulamentação.

A tentação é grande, infelizmente, para levar também agora o pêndulo longe de mais na regulamentação e nacionalização - em linha com a lei da física.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Mais um banco em França...

Hoje foi a Caisse d'Epargne em França por uma aposta erra de três operadores do banco. Apostaram que a bolsa subia e a voltailidade caía e aconteceu o contrário. Foram perdidos 600 milhões de euros. É um acontecimento mais parecido com o caso Jerome Kerviel do início do ano que com a crise financeira. Mas ninguém esperaria que alguém na banca se metesse em aventuras em tempos tão complicados.

Ontem foi o dia do grande UBS - mais 3,9 mil milhões de euros de dinheiro do Governo. Depois do seu rival Credit Suisse ter recebido dinheiro dos seus investidores.

A doença do crédito tratada com ... crédito

De João Pinto e Castro copio:

"In other words, the way to make sure Americans don't live beyond their means is to give them back the means."

Que como diz se aplica totalmente a Portugal.

Como se estivéssemos a tentar pôr sóbrio quem já bebeu demasiado dando-lhe mais uns copos.

Mas poderá ser de outra maneira?

Se a bolha do crédito rebentar repentinamente temos todos de ir... "à pesca", como recomendou o primeiro-ministro da Islândia.

O momento é muito perigoso. E o Plano Sócrates/Teixeira tem algumas fragilidades mas é em linhas gerais bastante sensato, racional e com poucos incentivos perversos.

Metodologias e Orçamento

O Público, num trabalho de Sérgio Aníbal revela o efeito dos presentes do Governo no Orçamento: um aumento da despesa pública acima do crescimento do PIB, invertendo-se a tendência do passado.

A política orçamental deve ser anti-cíclica - e esta está a ser.

A critica não é a subida da despesa - é preocupante porque ainda era e é elevada para os serviços que o Estado presta e é preciso ter cuidado com estes expansionismos.

A critica é para a lamentável alteração da metodologia que exigiu um paciente trabalho de Sérgio Aníbal para fazer as comparações com 2009.
Porque contrariamente ao que acontece há vários anos - diria décadas - o Ministério das Finanças não publicou este ano os quadros da despesa e receita do Sector Público Administrativo por sub-sectores na óptica da contabilidade pública e nacional nem alertou que os grandes agregados que construiu não são comparáveis. Lamentável.

Não discuto a metodologia. Mas quando se alteram metodologias devem-se colocar os alertas nos quadros em que essas mudanças tiveram efeitos dizendo que os números não são comparáveis.
E continuo sem compreender porque não divulga o Ministério das Finanças os habituais quadros.

Eleições e Orçamento

Olhar para as políticas e ciclos económicas e os ciclos políticos é sempre muito interessante.

Só conheço um trabalho para Portugal de Manuel Agria em que confronta as despesas de investimento com os calendários eleitorais - lá seguem o padrão esperado, aumentam os investimentos quando se aproximam as eleições.

Outros trabalhos internacionais - não me recordo exactamente das referências - mostram que a decisão do eleitor tem um racional - a sedução não pode ser feita nem muito perto das eleições (demasiado descarada?) nem muito afastada (a memória é curta) para que o voto vá para quem usou as políticas económicas para ganhar as eleições.

O PS pode ter a sua vitória eleitoral assegurada por causa da crise - é cedo para o dizer porque, apesar da longa lista de presentes no Orçamento a crise económica chegará aos nossos bolsos com gravidade já em 2009 - já o eleitor se pode ter esquecido destas ofertas - e a violência da crise pode ser tal que a decisão de votar acabe por ser uma decisão de castigar.

Se as eleições fossem no início do ano de 2009 dificilmente o PS perderia o poder. A crise, neste momento parece que salvou o Governo. Vamos no fim de 2009.

A crise não salvou os Republicanos de George W. Bush

Mas a crise pode ter salvo Gordon Brown - menos mediático que Tony Blair, Browm identificou bem o problema - um dos maiores segredos para encontrar as soluções.

Entrevistas - rumores e opiniões

A propósito de jornalismo:

Deve um jornalista fazer uma pergunta apoiada num rumor?

Perguntas como: "O crescimento previsto para a economia não é optimista?" Valem a pena?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Um Orçamento de fartura... Para quem a factura?

A proposta de lei do Orçamento do Estado para 2009 distribui benefícios por todos.
Até os funcionários públicos vão ter, no mínimo, um aumento salarial de 2,9%, o maior da década.

Como é possível? Quem paga?
Como não tivémos ainda acesso ao Relatório do Orçamento é difícil de compreender. Só s epode ler a proposta de lei.
Para já acabou a mensagem da redução do défice.
A crise casou com eleições.

Um desabafo:
Mais um Orçamento, mais um dia de loucura nos jornais.
Os governos sabem que todos os anos têm de fazer o Orçamento para entregar até 15 de Outubro à Assembleia da República. E todos os anos se atrasam. E todos os anos há incidentes de última hora. Enfim... pouco muda. Mesmo com "pen" e muitos computadores.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Fome que dá em fartura

Hoje é dia de entrega da proposta de Orçamento do Estado para 2009.
Com a informação que já existe parece que vamos estar perante um Orçamento historicamente expansionista. Ver em Negócios

No segundo dia após a o fim de semana de Washington e Paris as bolsas continuam bastante animadas e mais importante ainda as taxas de juro Euribor e Libor caem significativamente.

Fomes e farturas...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A boa notícia


Conhece bem a economia portuguesa, esteve cá como aluno do MIT após o 25 de Abril e quem lidou com ele como Silva Lopes, ex-ministro das Finanças e ex-governador do Banco de Portugal, viu nele já um génio.
Muito critico da administração Bush, foi igualmente muito critico do Plano Paulson e elogiou o programa de Gordon Brown que acabou por servir de inspiração à iniciativa europeia para combater a crise e será também seguido por Paulson, como o disse na sexta-feira após a reunião do Grupo dos Sete. Como se pode ler no seu blogue no NYT.
Um dos livros dele que gostava de reencontrar é sobre comércio internacional e localização da indústria em que usa como exemplo Portugal e Espanha. Já nessa altura previa que a abertura do mercado iria gerar um período de divergência em Portugal.
Há muito que se esperava que fosse Nobel mas é muito novo para Nobel, é mais keynesiano que liberal... ajustado aos tempos que correm. Como alguém disse, o Prémio Nobel é pró-cíclico.

Os mercados gostaram... do apoio do Estado

A iniciativa dos Quinze no Acordo de Paris deste domingo agradou aos investidores e aos bancos:

Que fizeram os Governos?

  • Comprometem-se com dinheiro em cima da mesa a garantir a emissão de dívida por parte dos bancos - e não como inicialmente se disse, na sequência das declarações de alguns líderes europeus, garantias para as operações de mercado monetário interbancário
  • Comprometem-se com dinheiro também em cima da mesa e dos contribuintes a injectar dinheiro nos bancos

Muito há a dizer sobre o que se passou e está a passar. Por enquanto ainda estamos a apagar o fogo. Quando se começar a reconstruir é preciso repensar o sistema financeiro - como criar um mercado num sector onde as empresas/os bancos não podem falir?

Para já as emissões de dívida pública vão aumentar, a dívida que deveria ser dos bancos, isto é, dos seus accionistas, passa a ser do Estado, isto é, dos contribuintes.

Não me parece que se possam esperar efeitos inflacionistas desta actuação dos governos e bancos centrais. Houve uma brutal destruição de liquidez com a desvalorização de activos com os efeitos que já se começam a sentir na queda da actividade económica.

Portugal não poderia deixar de oferecer uma garantia, mesmo que a banca não precisasse. O elevado endividamento português intermediado pela banca recomendava toda a cautela. E se todos os outros países fizeram o mesmo, a banca portuguesa não poderia ter a desvantagem de não ter a possibilidade de ter a sua emissão de dívida com garantia de Estado.

domingo, 12 de outubro de 2008

A Europa mais unida pela necessidade



A Cimeira da Zona Euro mantém o "cada um por si" mas com orientações coordenadas.
Aqui se pode ler o comunicado que estabelece duas grandes áreas de acção:
  1. Mercados interbancários por via de garantias aos bancos para reactivar o mercado de crédito;
  2. Recapitalização dos bancos nas mais diversas formas, desde a entrada no capital - como os ingleses estão a fazer - até á aquisição de activos de qualidade - a opção dos espanhóis.

O Governo português aprovou hoje em Conselho de Ministros uma garantia no montante global de 20 mil milhões de euros à qual podem aceder os bancos com dificuldade de acesso a liquidez no mercado monetário interbancário.

Vamos ver como abre a bolsa de Tóquio e depois as bolsas europeias. Mais importante ainda é preciso ver os efeitos nas taxas de juro interbancárias na Europa. O efeito no mercado da Euribor e da Libor.

Seis semanas depois da crise esta é a acção mais coerente, focada e com uma abordagem global respeitando as especificidades de cada país e, de alguma forma, também seguida pelos Estados Unidos como se ouviu na sexta-feira pela voz de Paulson.

Se esta actuação não tiver efeitos...enfim. Vamos ver.

Gordon Brown está na fotografia da Zona Euro por ter participado no início da reunião. O Plano de Paris foi inspirado no Plano britânico.

sábado, 11 de outubro de 2008

As (inevitáveis) nacionalizações na banca

Quando as armas tradicionais de mercado não funcionam entra em acção a artilharia pesada: a nacionalização.
Mais de um mês depois da violenta réplica da crise financeira iniciada há quase 15 meses, as autoridades da Europa e dos Estados Unidos deixam cair a ilusão de conseguirem resolver o problema "cada um por si" e desistem das convicções.
  • Preparam-se para um plano global e em cooperação. George W. Bush e Angela Merkel enganaram-se na capacidade de lidar com o problema ao nível nacional.
  • Preparam-se para entrar nos capitais dos bancos, ou seja, para nacionalizarem a banca, adoptando o modelo do Reino Unido como se pode ler aqui e aqui na declaração do Grupo dos Sete. A nacionalização foi pela primeira vez colocada como solução para o problema por Willem Buiter e depois acabou por ser subscrita pela esmagadora maioria dos economistas, incluindo Martin Wolf. Paul Krugman também. E os 750 mil milhões de dólares do Plano Paulson podem servir exactamente para isso, para nacionalizar.

A intervenção directa, via nacionalizações ou mesmo via administração das taxas de juro, face à dimensão da catástrofe parece-me ser a única solução. Um modelo seguido pela Suécia nos anos 90.

Devemos estar satisfeitos? Claro que não. Vai sair-nos do bolso - dos contribuintes. Mas é a melhor de todas as soluções, embora não seja igualmente negativa:

  1. Deixar cair os bancos era, 'by the book', a melhor solução: quem correu riscos excessivos e não soube gerir o seu negócio perdia o dinheiro; desincentiva aventuras futuras. MAS o efeito do ajustamento teria um custo tal que poderia matar o doente - a população em geral - com a cura.
  2. Compra activos tóxicos, como prevê (ou previa) o Plano Paulson é de longe a pior das soluções: premiavas com o dinheiro dos contribuintes, quem tinha feito mais asneiras e incentivava a novas e mais asneiras no futuro abrindo portas para uma próxima crise pior ainda que esta.
  3. Nacionalizar ou mesmo confiscar é um "castigo" tão violento para os accionistas como a falência. Há um racional para o dinheiro dos contribuintes: estão a pagar para não perderem as suas poupanças - e não para salvar quem fez asneira -, estão a pagar para minorar os efeitos económicos da crise financeira, enfim, estão a pagar para que as perdas de emprego sejam as mais baixas possíveis.

Mas a seguir deve proceder-se a privatizações sem premiar os que se revelaram incapazes de serem accionistas dos bancos.

As notícias da semana foram péssimas: Wall Street teve a pior semana desde 1933; a bolsa portuguesa regista a pior semana de sempre tal como as bolsas mundiais e com bolsas suspensas em alguns países.

Vamos ver se as autoridades conseguem trazer a calma neste fim de semana: Grupo dos 15 do euro reunidos domingo em Paris; Bush apela a uma resposta séria à escala global e Angela Merkel parece ter mudado de ideias e está com Nicolas Sarkozy na defesa de um plano europeu à inglesa e não à americana.

E ainda a instabilidade entre vizinhos ou a guerra dos depósitos entre o Reino Unido e a Islândia.

Optimimo e realismo

Várias criticas têm sido feitas à falta de realismo e excesso de optimismo sobre a actual crise financeira.
Dante critica aqui dizendo, nomeadamente que "o optimismo inculcado há uma semana, não foi útil. Eram necessários sim, um realismo e uma informação completa, simples e acessíveis à população portuguesa."
Diria que:
  1. É espantoso como as autoridades dos EUA e Europa levaram tanto tempo a perceber a dimensão da crise. É preciso lembrar que esta crise começou em Agosto do ano passado - para quem acompanha os mercados bolsistas em Julho de 2007.
  2. A subavaliação que, hoje se vê, foi feita leva a concluir que as autoridades, designadamente os reguladores desconheciam grande parte do que os bancos andavam a fazer (coloco de parte a hipótese de serem irresponsáveis pois os problemas viriam sempre a cair-lhes em cima)
  3. A desorientação que revelaram desde a intervenção na Freedie e Fannie a 7 de Setembro - já lá vai mais de um mês - é mais um indicador de que foram apanhados de surpresa pela violência desta réplica da crise financeira.
  4. A reunião dos Quatro grandes europeus - França. Alemanha, Itália e Reino Unido - na semana passada foi um gravíssimo erro. Se não tinham acordo não se deveriam ter reunido.
  5. As declarações do tipo "faremos tudo o que for necessário para garantir os depositantes" - dita por todos como sintetiza Buiter de nada serviram para reanimar o mercado de crédito. Mas serviram para impedir que a situação se agravasse com um pânico bancário.
  6. Até agora não tenho razões para considerar que o Governo português não está a gerir bem a situação. Há pouca informação, é verdade, mas não há grandes sinais de instabilidade. E quem conhece os grandes números da economia portuguesa sabe que esta crise é particularmente perigosa para um país com um elevado nível de endividamento. Quanto à arrogância do primeiro-ministro, não é muito diferente do que sempre foi.