sábado, 29 de novembro de 2008

O custo de salvar o BPP

O Governo afirma, revela o Expresso, que salvou o BPP para evitar:
  • um efeito negativo na imagem externa de Portugal
  • um efeito negativo na confiança dos portugueses no sistema financeiro.

O Governo deu mais peso a estes factores. Tem dados que nós não temos, nomeadamente o endividamento do BPP ao exterior e os efeitos que a sua falência poderia ter nos compromissos dos outros bancos perante o exterior.

Portugal é um país endividado face ao exterior - só este ano precisamos de um financiamento equivalente 10% do PIB, o equivalente a 47 milhões de euros por dia.

Criar factores de desconfiança na capacidade do país - leia-se, banca - pagar as suas dívidas poderia ser fatal para toda a banca. O problema é que o ministro das Finanças disse ao Negócios que o BPP não tinha risco sistémico. Afinal parece que tem.

Foi esse risco que parece - ainda ninguém o disse oficialmente - terá levado o Governo a salvar o BPP.

Foi esse risco que transformou o BPP num bem público e permitiu que os accionistas olhassem para o problema como mais dos outros - portugueses - que deles. De qualquer forma, os veículos onde têm o seu dinheiro investido está em perda e muito provavelmente não seriam afectados pelo queda da parte bancária do banco. Tudo isto se compreende, tudo isto é racional.

Mas há outras racionalidades. Há um gravíssimo efeito perverso em tudo isto, sintetizado também hoje em parte no artigo de Miguel Sousa Tavares:

"Se você é grande accionista do BPN ou do BPP e deve 500 ou 750 milhões de euros, não se preocupe que tudo será feito para acorrer em seu auxílio. Nos anos bons cobram-lhe não mais de 15% efectivos sobre os seus extraordinários lucros (...), nos anos maus acodem-lhe aos prejuízos. Mas se você tem o azar de ser tributado apenas no IRS pelo seu trabalho, facilmente lhe levam 42% dos seus rendimentos e começam a debitar juros no primeiro dia de incumprimento" Miguel Sousa Tavares, Expresso 29 de Novembro de 2008

E isto é o mínimo que se pode dizer sobre os efeitos perversos da história de salvação dos bancos que está a decorrer em Portugal.

Já tinha defendido aqui que o BPP era um caso diferente do BPN. É pena que os seus accionistas não tenham estado disponíveis para resolver o problema de liquidez do banco.

3 comentários:

Anónimo disse...

Há empresários em Portugal julgados, condenados e presos por não terem dinheiro para pagar os impostos de empresas onde tentaram criar postos de trabalho . Há bancos em Portugal que apostaram em acções de empresas e obras de arte com dinheiro emprestado de outros bancos. Os donos desses bancos acumularam património nos momentos favoráveis do jogo. Querem agora entregar as cartas ao estado nos momentos de perda e abandonar a diversão incólumes. Das duas uma. Ou o estado vai pedir desculpa aos desgraçados que perderam tudo o que tinham no desespero de lutar por manter as suas empresas em funcionamento e reconhecer nobreza nas suas vãs tentativas. Ou estes também vão ter que pagar. Sob pena de perdermos a confiança no estado e na lei e abrir as portas à irracionalidade, fonte de todas as violências.

Anónimo disse...

Alguém viu por aí o Otelo???
Nem um sobrinho dele???????


Alguém viu a Fátima Felgueiras,o Isaltino, o Valentim, o Pinto da Costa,o Vale e Azevedo, o Avelino Ferreira Torres, o Carlos Cruz e restante comandita...

Está alguém acordado, ou andam a tomar Xanax????????????????

Anónimo disse...

Portugal, a certa altura, seguia o paradigma do Brasil. Agora segue o de Angola. O próximo será o da Guiné.
Além disso, voltou a ser o país dualista, como era "antes": tem das classe sociais, a das pessoas importantes e a das pessoas comuns. As pessoas importantes têm o Estado ao seu serviço; as pessoas comuns estão ao serviço do Estado.
É por isso que Commonsense é um europeu convicto, porque lhe repugna esta porcaria de sistema.