domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sobre a vida (e morte) do jornalismo 3

Acresce ao que já se disse o facto de hoje em dia as redacções serem uma espécie de voz do dono. (...)
continua jmf.

O que merece a minha discordância:
  1. Começo pela contradição de jmf com o seu primeiro post. Se os media publicam e republicam o que uns e outros escrevem - o que se observa factualmente - não se pode verificar, pelo menos na totalidade, essa "voz do dono" através da "luta entre grupos de media, seja através da supervalorização de notícias e personalidades do grupo, seja pela exclusão das dos grupos adversários".
  2. Mas sim, também me parece que é possível comprovar factualmente que órgãos de comunicação do mesmo grupo tendem a dar relevo às notícias produzidas dentro do grupo. Daí não se pode concluir que sejam a "voz do do dono". Todos os grupos trabalham no objectivo de integração de redacções - a famosa turbina informativa que produz notícias para várias plataformas, tv, rádio, papel, online - é o sonho de qualquer grupo de media.
  3. Do ponto de vista puramente jornalístico - à luz do princípio da confirmação da informação antes de a transformar em notícia - é racional que se confie mais em notícias produzidas pelo grupo.
  4. Quanto à questão do papel das redacções e directores na defesa dos interesses empresariais do grupo - tese defendida por todos os partidos que assumem o poder - parece-me manifestamente exagerado tudo o que se diz sobre essa matéria. Se assim fosse, dado o poder que o Estado tem na economia portuguesa, nenhum órgão de comunicação se atreveria a publicar notícias desfavoráveis a um qualquer Governo.
  5. Sim, eu conheço a tese de "criticar para obter o que se quer, ou criticar porque não se obteve o que se quer". A minha experiência diz-me que na esmagadora maioria dos casos, as acusações dos protagonistas do poder não têm qualquer fundamento e parecem ser muito mais estratégias para condicionar a informação.
  6. Dito isto, há com certeza condicionalismos impostos pelo facto de os media serem também empresas. Mas esses condicionalismos, sobre os quais já escrevi numa análise para o caso do jornalismo económico, não danificam o dever de informar e a obrigação de servir os leitores. Nem violam princípios básicos de deontologia.

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