sexta-feira, 8 de julho de 2011

O BCE, sim, é consequente nas criticas às agências de rating

O BCE suspendeu esta quinta-feira o requisito de rating mínimo para aceitar instrumentos de dívida ou títulos garantidos por Portugal como colateral  nas operações de concessão de liquidez, tal como já o tinha feito com a Grécia Uma decisão tomada na sequência da decisão da Moody's de colocar a dívida da República Portuguesa no nível de especulativa ou "lixo".
O BCE sim, tem sido consequente nas afirmações que faz e consistente nas decisões e posições que assume. Não se fica pelas criticas às agências de 'rating' como fazem os líderes de alguns dos grandes ou importantes países do euro para depois lhes dar, às agências, munições para fragilizarem ainda mais os países fragilizados.

O que fez a Moodys, como escrevi aqui, foi internalizar a possibilidade de incumprimento da Grécia colocada em cima da mesa pelos líderes europeus, nomeadamente da França e da Alemanha, e daí retirar as consequências: Portugal será o próximo. Uma mensagem transmitida pelos parceiros de Portugal no euro.

Os muitos sublinhados que Jean-Claude Trichet fez - "we [ECB] say 'no' credit event, no selective default" - são dirigidos aos responsáveis europeus. A Europa, defendeu, deve seguir a "doutrina internacional". E deu o exemplo da abordagem feita na crise do sudeste asiático, em 1997, vários países foram ajudados pelo FMI e/ou pelos seus vizinhos.

Vale a pena ver o vídeo da conferência de imprensa para se perceber como Frankfurt está afastada de Bruxelas. Trichet recordou, basicamente, que não se parte para um plano de reajustamento financeiro com propostas de incumprimento, como está a acontecer com a Grécia.

Vale ainda a pena ver como Trichet anda irritado. Aos 60 minutos, respondendo a uma questão sobre a possibilidade de a credibilidade do BCE estar afectado pelo seu envolvimento no apoio à Grécia, Irlanda e Portugal, mostrou-se bastante irritado: "Yes, sir, we are credible".

Não vale a pena matar os mensageiros como a Moody's que reflectem basicamente o caos em que está a União Europeia. Antes da crise no euro e do processo de ajuda à Grécia, um apoio financeiro internacional - do FMI - abria os mercados, não os fechava ainda mais, como está a acontecer agora. O fecho dos mercados está a ser ditado por um único acontecimento: a ausência de entendimento político dentro da União.

(Mais uma vez isto não quer dizer que não devem existir mudanças no sector das agências de 'rating' - além de viverem num oligopólio, como disse Trichet, são pró-cíclicas, ou seja, como também escrevi aqui, alimentam as euforias e os pânicos) 

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